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Quando vencer é voltar maior



Katia Bonfanti

psicóloga sistêmica


As vice-campeãs

Começaram o ano em muitas.

Meninas de mochila nos ombros, tênis novos, cabelo preso com pressa — ou com demora.

Trazendo nos olhos um feixe de sonhos.

Vieram com sede de bola, de quadra, de pertencimento — e desse “ser” em formação que pulsa forte na adolescência.

Aos poucos, foram se tornando equipe.

Não por estratégia.

Nem por repetição.

Mas por pequenos gestos que ninguém vê: um toque no ombro, um silêncio que acolhe, um riso contido depois do erro... e o espanto — sempre ele — diante do que ainda se está aprendendo.

Porque errar também é um jeito de construir acertos.

Viraram doze.

Algumas saíram no meio do caminho.

Saíram em silêncio — ou quase.

Porque a ausência sempre deixa um eco.

E quem ficou precisou reaprender a seguir com um espaço novo dentro do grupo.

O ano avançou.

Vieram os treinos longos, as dores, as dúvidas.

Teve dia de raiva.

De cansaço.

De querer sumir.

Teve choro escondido no vestiário.

Mas teve também abraço depois da falha.

Teve grito junto no ponto improvável.

Teve alegria besta por uma jogada que, enfim, deu certo.

E dia após dia, elas cresceram.

Na força do corpo, sim.

Mas, sobretudo, nas emoções que moldam a verdadeira performance.

Cresceram naquilo que não se mede: na escuta, na coragem, no cuidado umas com as outras.

Nem sempre foi fácil.

O estresse das competições, a pressão por resultados, o julgamento apressado.

E o elogio quase tranparente.

Alguns exercícios que pareciam castigo.

O erro, tantas vezes, exposto.

A hesitação, sentida por todos.

A frustração, pública.

Mas mesmo sob tudo isso, elas seguiram.

E seguir é uma forma de vencer.

Levarão essas marcas consigo — como lembranças de um tempo intenso.

Mas que isso não precise doer para sempre.

Nem toda joia precisa nascer da dor.

Há também aquelas que se formam de lapidações cuidadosas.

Que se criam no olhar atento, no afeto, no espaço de escuta.

Porque ser humano é ser imperfeito — e o esporte é um palco onde isso aparece com força.

Ali não há esconderijo.

O que falha aparece.

Mas o que brilha também.

E elas brilharam.

Chegaram à final.

As doze.

Levaram para a competição tudo o que eram — e tudo o que ainda estavam se tornando.

Jogaram com o corpo inteiro — e com tudo o que doía também.

O placar disse: vice-campeãs.

Ganharam.

Perdeu quem não percebeu doze forças pulsando juntas.

Dentro e fora da quadra.

Havia um outro tipo de vitória se desenhando em silêncio.

Aquelas forças invisíveis que atravessam o time inteiro…

Que levantam ânimos quando ninguém mais consegue.

Que revertem pontos nos cantos mais improváveis da quadra.

Que viram o jogo.

Que colocam em igualdade até o que parecia distante.

Talvez, mais tarde, não lembrem do resultado.

E tudo bem.

Talvez esqueçam o nome do time adversário, ou o ginásio.

Mas vão lembrar do frio na barriga.

Do nó na garganta.

Do barulho da torcida.

Do olhar que segurou o medo no último ponto.

Do abraço que veio, mesmo sem medalha dourada.

Vão lembrar que, naquele ano, foram parte de algo que não se desfaz.

Algo que ficou dentro.

E que vai durar na lembrança das doze.

Porque a verdadeira conquista não pesa no pescoço.

Ela enche o peito.

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